Estamos em plena temporada de lançamentos nacionais com estilistas dispostos a tudo para ter a sua etiqueta estampada nos cabides das lojas mais importantes ou marcada (branding) no corpo dos consumidores de moda.

Já não bastam belas coleções, é fundamental todo um jogo de sedução para que a marca brilhe e interesse.

Afinal qual é a razão da compra? Compra-se para satisfazer necessidades imediatas, compra-se a coisa “pelo que ela é”.

Um copo por ser um recipiente para água, ou qualquer outra bebida, mas também pode ser mais que um copo. Pode ser um Bacarat, um Saint Louis, um copo escandinavo ou com um “design” além do contemporâneo.

A gratificação obtida do objeto adquirido está muito mais ligada àquilo que pode simbolizar que por sua função utilitária.

Desfiles com belas modelos -magras como toda mulher desejaria estar, mais a propaganda, rótulos e embalagens elaboradas faz a percepção do produto ser alterada.

Uma bolsa feminina, por exemplo, pode ser definida como um pequeno “container” onde a mulher transporta diversos objetos de uso.

Uma bolsa Prada, Chanel ou Louis Vuiton, no entanto, é mais.

São objetos de desejo, símbolos de status, poder, elegância, riqueza e auto-realização.
Desde o adolescente com seu tênis Nike ou Reebock, passando pelas “poderosas” com bolsas e roupas grifadas, todos usam e abusam das marcas. Essa nova coleção de símbolos ocupa, na sociedade de consumo o lugar antigamente ocupado por representações nacionais, profissionais e religiosas.

Valor agregado

As etiquetas com o nome do fabricante, ou sua marca, deixaram o avesso das roupas e passaram a ser elemento de destaque na composição externa do traje. Não é mais a roupa que faz a diferença, mas a marca da roupa.

Para o consumidor atual, mais que a qualidade do corte, da forma, das cores de suas vestimentas, importa mais as marcas comerciais dos fabricantes ou dos que a comercializam.

As marcas atribuem valor aos trajes, identificam atitudes esportivas, sociais, conservadoras ou de vanguardas. Resume em um sinal simbólico todo um conjunto de atributos e de percepções.

Assim, corpos podem ser percebidos como jovens, atléticos, esbeltos, sedutores, dependendo das etiquetas que lhes são acopladas. As marcas representam status, atitude, categoria e estilo de vida.

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O milagre do marketing

Os desfiles e o marketing das marcas mais endeusadas rezam por uma bíblia onde tentam “batizar os pagãos”, “converter os infiéis” e “afervorar os crentes”.

“Batizar os pagãos” corresponderia ao trabalho de convencer as pessoas que não têm o hábito de usar grifes a adquirir tal hábito, “converter os infiéis” seria fazer os usuários de outras marcas a testarem a grife e “afervorar os crentes” constituiria em um incentivo ao consumo cada vez mais intenso daqueles que já são usuários da marca em questão.
Quanto mais o consumidor julgar uma coisa como “valiosa”, mais estará disposto a pagar por ela e esse é um aspecto que pode ser trabalhado.
Ao transformar um objeto básico em “objeto de desejo”, o estilista agrega valor àquele produto. Estimulando o desejo do comprador ele aumenta a sua “percepção de valor”.

Essa capacidade de agregar valor aos produtos faz com que as marcas constituam, apesar de intangíveis, um ativo valioso que integra o patrimônio das empresas.

A “marca”, compreendida como a resultante de uma soma de percepções, além de agregar valor ao produto, confere-lhe uma carga simbólica e transforma-o de tal maneira que passa a ser considerada “em si”, passando o objeto material ou o serviço a uma significação secundária.

A partir daí, pode-se observar uma linha muito tênue entre a moda e a comunicação. Vestimos o que queremos ser, o queremos comunicar. Usamos máscaras para nos adequar ao meio.
Diante de todo esse contexto do mundo atual globalizado, criar moda de uma forma diferente e individualizada, primando pelos detalhes e por agregar valores às roupas de forma a torná-la uma extensão visível da personalidade de quem usa, é a maneira mais inteligente de ver uma marca ou grife ser bem-sucedida num mercado onde pouco é criado e muito é copiado.

Xico Gonçalves
Xico Gonçalves
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