É comum profissionais de moda buscar inspirações nos figurinos de filmes para elaborar coleções.
Centenas de ideias mostradas nas passarelas reprisam momentos cinematográficos inesquecíveis, com divas como Greta Garbo e Marilyn Monroe ou personagens como Gandhi ou Evita Péron.
Nos bastidores do visual de muitas obras primas, a assinatura é dos figurinistas contratados pelos estúdios, que inspirados pela moda ou pela história, colaboraram ainda hoje na moda atual.
Selecionei alguns dos que considero importantes para que tenham o reconhecimento que merecem.
Talvez sem um Adrian ou Edith Head não existissem os saint laurents e langerfelds da atualidade.
Estilistas das estrelas
Imagine só vestir as mulheres mais fantásticas do mundo
Walter Plunkett
Walter Plunkett foi o figurinista de “E o Vento Levou…”
Ele nasceu na Califórnia e estudou Direito na Universidade da Califórnia, participando do grupo teatral da faculdade.
Em 1923 mudou-se para Nova York, pois sonhava em ser ator de teatro.
Não deu certo e ele voltou para a Califórnia, onde tentou carreira em Hollywood.
Após pequenos papéis ele aceitou um emprego no departamento de guarda roupas da FBO Studios (que mais tarde se tornou a RKO), especializada em westerns.
Sem um treinamento formal, logo foi promovido a figurinista e ficou na RKO como designer chefe entre 1926 e 1939.
Seu primeiro figurino creditado foi no filme Hard-Boiled Haggerty, de 1927.
Na RKO ele teve passe livre e começou a criar trajes que rivalizavam com o trabalho de Travis Banton e Adrian.
O figurinista ficou conhecido em Hollywood como a maior autoridade em trajes de época.
Ele disse uma vez que adorava trabalhar em filmes de época porque os diretores eram raramente sabiam algo sobre a moda da época, fato que fazia com que não discutissem com ele.
Foi Katharine Hepburn, que já conhecida o trabalho de Plunkett em mais de sete filmes onde vestiu seus modelos, que recomendou o figurinista para o filme “E o Vento Levou”.
O produtor David Selznick já conhecia o trabalho dele de outras produções e não foi difícil aprová-lo para mais esse projeto. O resultado foram figurinos inesquecíveis como o vestido de veludo verde musgo feito a partir de cortinas da família e o vestido vermelho.
Gilbert Adrian (1903-1959)
Foi o maior figurinista dos anos dourados de Hollywood e terminou os dias no Brasil.
Mais do que simples roupas de cena, o americano Adrian era célebre por criar elaborados trajes de gala (“gowns by Adrian” como costumava ser creditado) que ajudaram a fortalecer mitos como Katherine Hepburn, Joan Crawford, Jean Harlow, Norma Shearer e, sua favorita entre todas, Greta Garbo. ,
Nos anos 1920, Adrian estudou design em Nova York e artes plásticas em Paris, onde tomou contato com o mundo da moda.
Tinha aguçado senso de estilo, talento para a modelagem com materiais nobres e profundo conhecimento da silhueta feminina.
O que os colegas procuravam disfarçar, ele acentuava.
Assim, vestiu a mignon Jean Harlow em longos vestidos fluidos de cetim brilhante, transformando-a na Vênus platinada.
E nunca evitou exageros (golas de pele, crinolinas com babados e trajes masculinos) para vestir a deusa de 1,75m Greta Garbo, em todos os filmes.
Seu reinado terminou com os orçamentos minguados e os filmes menos luxuosos da Segunda Guerra.
Durante dez anos, de 1942 a 1952, teve sua própria butique em Beverly Hills, até que um ataque cardíaco o fez mudar-se com a mulher, a atriz Janet Gaynor, e o filho para o Brasil, onde viveu até ser convocado pela Broadway para vestir o musical “Camelot”.
Infelizmente, o coração falhou novamente e ele saiu de cena em 1959, sem nunca ter recebido um Oscar.
Além dos filmes de Garbo, seus grandes momentos incluem “Maria Antonieta” (1938), “O Mágico de Oz” (1939), “The Women” (1940) e “Festim Diabólico” (1948).
Ele ampliou os ombros de Joan Crawford popularizando as ombreiras.
Edith Head (1897-1981)
Edith Head impressiona pelos mais de 500 filmes (ela dizia ter assinado 1.000), 35 indicações ao Oscar, 8 estatuetas e o vestido mais caro de Hollywood.
E começou no “truque”.
Em 1927, quando era professora de francês num colégio feminino resolveu se apresentou para um cargo no departamento de figurinos dos estúdios Paramount. Ela não sabia desenhar nem costurar, mas levava uma pasta com croquis feitos por suas alunas.
Foi contratada no ato e revelou-se tão dedicada e profissional que assumiu como figurinista-chefe até 1967.
Seu primeiro sucesso foi o sarongue de Dorothy Lamour, em “The Jungle Princess” (1936), copiado no mundo inteiro.
Depois veio o vestido com cauda de vison (US$ 50 mil no câmbio de 1943) para Ginger Rogers no musical “Lady in the Dark”.
Mais tarde, os figurinos de “A Malvada” (1950), que lhe rendeu um de seus Oscars.
Para ter crédito nos filmes de Audrey Hepburn, assinou na maior cara de pau os vestidos feitos por Givenchy, em Paris, para “Sabrina” (1954), e ganhou outro Oscar.
Dona de um estilo sóbrio, soberbamente fotografado em technicolor, sua melhor vitrine ainda são os filmes de Hitchcock dos anos 1950 e 1960: “Janela Indiscreta”, “Um Corpo que Cai”, seu favorito, “Ladrão de Casaca” e “Os Pássaros”.
Nos anos 2000 ressuscitou como estampa de selo dos correios do EUA e inspiração para a impagável Edna Moda, do filme de animação “Os Incríveis” (2004).
Piero Tosi (1927)
Valentino e Giorgio Armani mais de uma vez renderam homenagem ao figurinista que eles chamam de “maestro”.
Trabalhando com os três grandes do cinema italiano -Visconti, Fellini e Pasolini-, Piero Tosi revelou talento inigualável para recriar figurinos de época com precisão histórica.
O guarda-roupa de “Medéia” (1969), de Pasolini, e “Satyricon” (1969), de Fellini, são algumas de suas criações célebres.
Mas foi nos filmes de Visconti -com quem estreou no cinema em “Belíssima” (1951)- que Tosi deixou sua maior e melhor marca.
Ele criou os figurinos de “O Leopardo” (1963), com um vestido branco de Claudia Cardinale, na seqüência do baile, de tirar o fôlego.
A mesma grandiosidade surge no retrato belle époque de “Morte em Veneza” (1961) e na delirante corte de “Ludwig – A Paixão de um Rei” (1972).
Igualmente brilhantes são suas incursões no século 20, como em “Matrimônio à Italiana” (1964), “Arabella” (1967), “O Porteiro da Noite” (1974) e na série “A Gaiola das Loucas” (1978-1985).
Milena Canonero
Na Londres do futuro imaginada por Stanley Kubrick em “Laranja Mecânica” (1971), um grupo de jovens arruaceiros vestem-se com velhas roupas brancas, suspensórios, abotoaduras em forma de globo ocular ensanguentado, coturnos e chapéu coco.
Tudo obra da italiana Milena Canonero, em sua primeira incursão como figurinista de cinema.
Ela praticamente antecipou o punk em cinco anos e na cor errada – punks amam o preto.
Em seguida, Kubrick a enviou em uma viagem pelo século 18.
Durante dois anos Milena frequentou leilões de roupas da época e estudou a pintura do período – principalmente Gainsborough – para conceber “Barry Lyndon” (1975), um dos mais bem vestidos filmes de época de todos os tempos.Foi seu primeiro Oscar (dividido com a assistente Ulla-Britt Söderlund).
O segundo veio em 1981, com “Carruagens de Fogo” e sucesso como inspiração para a moda em “Maria Antonieta”, de Sofia Coppola.
Sandy Powell (1960)
Uma verdadeira rebelde, Sandy Powell acha a moda um tédio “porque são apenas roupas”.
Sua estréia no cinema foi com o alternativo Derek Jarman em “Caravaggio” (1986), mas chamou atenção mesmo com “Orlando” (1982), viajando da Inglaterra elizabetana aos anos 20 sem perder a batida rock’n’roll da versão de Sally Potter para o clássico de Virginia Wolf.
Depois repetiu a dose “túnel do tempo” em “Entrevista com o Vampiro” (1994).
Recebeu indicações para o Oscar com a Londres vitoriana de “Nas Asas da Paixão” (1997) e a cena glam rock de “Velvet Goldmine” (1998).
Mas ganhou mesmo com “Shakespeare Apaixonado” (1998) e “O Aviador” (2004), onde refez um Adrian para Jean Harlow (Gwen Stefani) em cetim, vison branco e orquídeas.
Sem esquecer a ousada de Cameron Diaz em “Gangues de Nova York” (2002), que mistura Japão (quimono), França (corselet) e Espanha (xale de franjas) no mesmo look, quando serve de alvo para um atirador de facas.