A moda brasileira pede passagem
A estilista brasileira Zuzu Angel há anos afirmou: “No meu país acham que moda é frivolidade, futilidade. Tento lhes dizer que moda é comunicação, além de dar emprego para muita gente”.
A atividade da moda é uma das mais importantes alavancas econômicas de potências como França, Itália e Inglaterra.
Pelo excelente posicionamento no mercado, são eles que decidem as tendências internacionais fazendo que os outros corram atrás para poder fechar negócios. Ou seja, não adianta o Brasil lançar roupas vermelhas se a moda é o preto, entende?
Eles dominam a opinião através de poderosas campanhas publicitárias na mídia de moda.
Devido a esta pressão todo planeta fashion precisa rezar pela mesma cartilha. E nossos estilistas nacionais também são obrigados a acompanhar a onda para não destoar dos temas que regem a estação. Por isto não existe moda brasileira, e sim com tempero brasileiro, que pode ser usada no Brasil, nos Estados Unidos ou Japão.
Não se pode cobrar de nossos estilistas que transformem suas passarelas em Embaixadas do Brasil
A moda é universal. É espelho de um tempo que transforma em mercadoria o que os consumidores gostariam de usar de acordo com a suas liberdades individuais.
Chanel ao criar suas roupas fenomenais nunca pensou em fazer moda francesa.
E ninguém olha a roupa do Jean Paul Gaultier e diz: “Nossa, que moda francesa!”, apesar do estilista usar muitos detalhes da sua cultura natal.
Lembro que em um desfile de inverno no Fashion Rio uma jornalista de moda quase teve um ataque quando soube que o estilista que ia mostrar sua proposta tinha se inspirado no leste europeu.
“Porque não no Brasil?”, vociferava ela.
Pura bobagem.
Os melhores trabalhos do genial Yves Saint Laurent foram inspirados na África para francesas endinheiradas se sentirem o máximo.
Para criar moda é preciso fazer uma leitura global, acrescentando particularidades locais.
Se o produto de nossos estilistas circulasse pelo mundo teríamos um reconhecimento maior. Fronteiras não combinam com a criação.
Certa vez em uma palestra, o genial Fernando de Barros ao ser questionado sobre a tal “moda brasileira” declarou que não existe “a” moda brasileira, assim como não existe a moda italiana, francesa ou do Ceará.
A moda é o reflexo direto de um momento histórico e não acontece apenas em um país. Tanto que a maioria dos estilistas que lançam na França são estrangeiros em busca do mercado internacional.
Made in Brazil
Temos uma moda criativa, uma indústria razoavelmente aparelhada para competir no mercado global.
Eventos como SPFW e Fashion Rio mostram coleções maduras, bem construídas, criativas.
E não há como negar: a moda brasileira tem por parte da mídia uma atenção que nenhum outro país dá a esta indústria.
Depois do futebol é o assunto que mais circula na imprensa escrita, falada e televisionada.
No entanto, essa visibilidade toda não resulta em benefício direto para o negócio. Ou seja: a moda brilha, mas vende muito menos do que se imagina pelo ruído que provoca.
A razão principal para o paradoxo é a falta de crescimento industrial no país e a redução do poder de compras dos consumidores brasileiros.
Muitos estilistas tentam o mercado externo, a exportação, mas nem todos conseguem vender.
O grande problema é que, lá fora, ninguém perdoa quem copia ou tem uma referência muito clara.
E ainda existem no Brasil estilistas que fazem referências muito nítidas ao que está sendo feito no exterior.
Outro fator da nossa ausência do cenário da moda internacional é que os brasileiros são muito individualistas e acham que podem fazer tudo sozinhos: anunciar seus desfiles, vender, produzir e entregar, como se não estivessem integrados a um tecido mais amplo, como se não precisassem dos apoios institucionais que o desafio global exige.
Nossa talentosa indústria têxtil brasileira tem sobrevivido nos últimos anos, apesar da concorrência com a China e a crise nacional. Muitas encerraram as atividades.
Foi sempre o segundo setor que mais emprega no país depois da construção civil.
O segmento moda envolve 30 mil empresas formais que geram 1,5 milhão de empregos diretos e chegam a exportar US$ 1,185 bilhão ao ano. Claro que a crise atual tem diminuído estes dados.
Porém enquanto no mercado mundial de vestuário circule US$ 195 bilhões ao ano, a participação brasileira é de apenas 0,14%.
Precisamos nos aproximar mais e melhor do resto do mundo, entender suas necessidades, suas preferências e expectativas.
Satisfazer as exigências de qualidade, dos volumes, dos preços com os quais eles trabalham para aproveitarmos esse mercado que tanta falta faz ao Brasil.
Mas é no alinhavo que surgem grandes roupas
De ponto em ponto nossos criadores chegam lá.
Lembrando que assim como a moda, o futebol não é originalmente brasileiro, mas nos tornamos campeões neste esporte. Porque não na moda?