Desde quando as pessoas precisam parecer mais altas e magras?

Porque a roupa exige esta preocupação quando o ato de vestir uma roupa deveria ser uma ação divertida?

silhuetas

Quem já não parou em frente ao espelho e deixou de usar uma peça só por que ela tinha um pouco mais de volume?

Ou rejeitou algum item que extrapola alguns centímetros de tecido?

Tudo isso para não aparentar ser maior, não parecer baixa ou apenas não quebrar os velhos truques de styling que sempre nos ensinaram a alongar e afinar a silhueta.

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Existe uma corrente da moda que quer quebrar esta ideia de uma imagem longilínea.

Muitas marcas e estilistas o futuro da moda é uma brincadeira com os shapes, que certamente vai ajudar a mudar a percepção que temos sobre os nossos corpos.

Quando Rei Kawakubo apresentou a coleção Body Meets Dress, Dress Meets Body (algo como O Corpo Encontra o Vestido, o Vestido Encontra o Corpo, em tradução livre), durante o verão 1997, da Comme des Garçons, ela não apenas causou um estranhamento inicial com uma imagem provocativa de moda, mas pautou uma discussão com looks carregados de conceito.

Usando volume, a estilista japonesa sugeriu que nossos corpos podem assumir formatos diversos de acordo com as roupas que usamos, e que não há problema algum em subverter o modelo tradicional da silhueta.

Essa temporada ficou conhecida pela coleção Lumps and Bumps da marca, fazendo alusão aos enchimentos que a estilista aplicou nos vestidinhos estampados de xadrez vichy.

Depois, ela acabou virando figurino da peça de balé Scenario, do coreógrafo Merce Cunningham, e, hoje, é uma das coleções mais representativas da designer, que sempre quis mesmo dar  cutucadas nos padrões.

Na década anterior a esse desfile, os anos 1980, as modelagens estavam preocupadas em valorizar as curvas dos corpos entendidos como esculturais.

Mesmo em 1997, ano do desfile de Rei Kawakubo, Thierry Mugler também mostrava o quão fina uma cintura poderia ser em sua apresentação couture e Tom Ford comandava uma Gucci ultrassexy, bem diferente da imagem que temos hoje da etiqueta italiana, com a direção de Alessandro Michele.

Comme des Garçons influencia  a moda atual

Alguns nomes se destacam quando o assunto é brincar com as formas.

Rei Kawakubo continua a produzir esculturas para vestir e contar muita história com elas ao lado de nomes como Junya Watanabe e Fumito Ganryu.

Mas há novos criadores que também subvertem a modelagem com volumes e sobras de tecidos.

O designer canadense Steven Tai, por exemplo, sobrepõe camadas nos pontos mais incomuns para cumprir essa função.

Na passarela de Rick Owens, o pano dá voltas e vira grandes nós com o trabalho de moulage, assumindo um visual pós-apocalíptico, típico da label.

Jacquemus, quase como um cubista das artes visuais, lança mão de peças estruturadas e geométricas, saias redondas e blazers quadrados em seus desfiles.

E não foram apenas os designers conhecidos por looks abstratos que deram as cartas nesse jogo.

Na mesma onda das peças oversized, a tradicional Céline deu folga ao corpo com amplos tricôs trabalhados.

Já Stella McCartney foi de longo em um vermelho vibrante para garantir igual conforto.

Além de tantas outras tendências que podemos pinçar das semanas de moda, a jaqueta, por exemplo, quando não é bomber, é puffer, e explode em formato arredondado na parte de cima do look.

As mangas extralongas instauradas pela Vetements, que pouco se importam quando o braço termina, viraram um detalhe icônico da estação.

Estamos, em um momento das roupas maximizadas, da inspiração esportiva despretensiosa e da ruptura com os antigos rituais de proporção.

Não se trata de esconder os belos contornos que o corpo tem, mas se permitir aceitar as novas formas que ele pode ganhar.

Trata-se de quebrar algumas regras e, esta é a função da moda. Mudar o que está estabelecido.

Christian Dior foi chamado de louco quando lançou o New Look em 1947 usando metros de tecido e dando um novo formato ao corpo feminino.

Contra tudo e todos a nova estética pegou e fez a fortuna e a popularidade da Maison até hoje.

Portanto comece a pensar no seu corpo com outras formas.

A moda acaba vencendo!

Xico Gonçalves
Xico Gonçalves
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