Poder grisalho
Quem ainda acha que “velho” é sinônimo de ultrapassado, vai ter de rever seus conceitos.
A moda está buscando na imagem dos maduros, um diferencial de marketing e de renovação.
Usar modelos da terceira idade em desfiles, editoriais e publicidade é mais uma novidade do mundo fashion.
O que faz a moda, que durante quatro décadas valorizou mais o status de ser jovem do que ter dinheiro, mudar a direção de imagem tão radicalmente?
Em primeiro lugar a constatação de que ser velho não é ser antigo. Ganhar idade, rugas e perder o viço da juventude não é uma doença e nem desgraça. É apenas um fato biológico que nada tem a ver com a capacitação profissional ou gosto pessoal.
Nestes novos tempos, só parece “velho” quem quer. Para a aparência física, existe uma combinação de tecnologias médicas e estéticas que disfarçam as marcas da idade enquanto a ginástica e a musculação seguram o corpo.
Para se atualizar, as redes sociais, a Internet, TV a cabo jornais e revistas criam um canal de acesso à informação em tempo real.
Na medicina novos medicamentos eliminam muitas doenças da senilidade.
Com um visual jovem por mais tempo, este grupo consumidor que cresce 3,4% ao ano, é o novo alvo da publicidade, indústria e comércio.
Geralmente aposentados ou longe do problema do desemprego, com poder aquisitivo, renda fixa e tempo para desfrutar, os vovós e vovós estão deixando de gastar o salário com brinquedos para os netinhos para investir no próprio prazer.
Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem no Brasil atualmente 12,7 milhões de pessoas com mais de sessenta anos, cerca de 8,3% da população. Parece pouco, mas levando-se em conta que os clientes na faixa dos 18 a 29 anos representam 16%; entre os 30 e 39 anos, 24% e de 50 a 59 anos, 22%, o percentual não é desprezível.
A terceira idade avança mais que a juventude. Uma dor de cabeça para Previdência, mas um promissor filão de consumo.
Dados do Banco Mundial indicam que pessoas com mais de sessenta anos representarão mais de 11,5% da população total do planeta em 2030.
Moda
Não existe moda para pessoas maduras e sim uma adaptação da moda ao estilo de vida e ambiente que cada um circula.
A moda tem propostas para qualquer idade. Quem conserva as medidas mais enxutas têm menos problema de encontrar roupas no estilo pessoal.
Rota 66
Quando Paco Rabanne, nos anos 1960, pela primeira vez na história da moda, colocou somente manequins negras no casting do seu desfile inspirado na África, imprensa e público ficaram surpresos. O padrão de modelos da época era de loiras com a cara da boneca Barbie. Não existiam tops de qualquer outro tom de pele nem em desfiles e nem na publicidade. Yves Saint Laurent anos depois, foi o primeiro a usar uma negra com suas roupas em uma campanha publicitária.
Hoje qualquer desfile de qualidade ou anúncio explora a beleza negra com destaque entre outras etnias femininas sem nenhum preconceito.
A idéia de usar modelos maduras em desfiles e revistas pode parecer estranho inicialmente, mas se tornará comum em poucos anos.
Diretores de marketing e editores de moda entenderam que nenhuma mulher madura em sã consciência se espelha em manequins meninas de 16 anos.
Em busca de uma identificação com este mercado, na publicidade internacional algumas marcas já usaram o poder grisalho para vender produtos. Gap (Lena Horne), Donna Karan (Benedetta Barzini), Levi’s Strauss (Josephine, 79), entre outros usaram modelos acima dos 60 anos para fixar a marca nesta faixa etária e surpreender os clientes mais jovens.
Usar modelos maduros também pode render conceito de vanguarda.
Nos anos 1980, Yohji Yamamoto e Issey Miyake desfilam suas roupas em pessoas de mais de 60 anos
Thierry Mugler colocou na passarela e na mídia modelos maduras como Carmem dell’Orefice (66 anos) e a atriz Cyd Charisse.
Nos anos 1990, Jean Paul Gaultier usou uma vovó de setenta anos para lançar o perfume Gaultier Junior.
Dolce & Gabanna em 2002 teve como estrela principal da campanha da D&G Difusion Youth – linha jovem da grife, Daphne Selfe, uma avó inglesa de 73 anos. Fotografada por Mario Testino – o fotógrafo que lançou Gisele Bunchen, ela ganhou R$175 mil e contrato para desfilar também para Jean Paul Gaultier.
O estilista belga super cult Martin Margiela mostrou nos anos 1990 a coleção no corpo de ex- modelos e atrizes de cinema, todas acima dos quarenta anos, entendendo que o grande público da Hermès (onde desenhava na época) é de mulheres maduras e muito ricas.
No Brasil Marcelo Sommer apresentou em 2002 uma coleção para a Santista Vestis usando quinze senhores com mais de 66 anos, a maioria contratado em agencias de Papai Noel.